O turismo de observação de aves (aviturismo) vive um momento histórico no Brasil. O Ministério do Turismo, em parceria com a UNESCO, lançou o Diagnóstico de Políticas Públicas do Turismo de Observação de Aves, primeiro estudo nacional voltado exclusivamente para compreender e fortalecer esse segmento que une natureza, conservação e desenvolvimento sustentável.
O documento sistematiza dados e experiências de todo o país, revelando o amadurecimento de uma atividade que já se consolidou como vetor estratégico de conservação e geração de renda. Com mais de 1.979 espécies registradas, sendo 293 endêmicas, o Brasil está entre os destinos mais procurados do mundo para observação de aves — e o diagnóstico reforça que essa riqueza vem, cada vez mais, se transformando em oportunidade de desenvolvimento territorial
O que o diagnóstico revela
O estudo reuniu 2.640 respostas de observadores, guias, gestores públicos e empreendedores de todos os biomas brasileiros, além de 308 empreendimentos mapeados. O levantamento mostra um público crescente, altamente engajado com a conservação e disposto a viajar longas distâncias para vivenciar experiências autênticas em áreas naturais.
Os resultados confirmam o que o Censo Nacional de Observadores de Aves (Avistar, 2023) já apontava: o número de praticantes aumenta a cada ano, refletindo a expansão de clubes, festivais, roteiros especializados e a presença do tema em políticas públicas. Hoje, o Brasil se destaca entre os líderes globais em participação na ciência cidadã — com recordes de espécies registradas no Global Big Day e forte presença em plataformas como eBird e WikiAves.
O turismo de observação como política pública
O documento do MTur e da UNESCO faz uma leitura abrangente das leis, programas e diretrizes que sustentam o setor. A Lei nº 15.180/2025, por exemplo, criou a Política Nacional de Incentivo à Visitação em Unidades de Conservação, autorizando o ICMBio e os órgãos estaduais a criarem fundos específicos para financiar a visitação em áreas protegidas — uma medida que favorece diretamente o ecoturismo e a observação de aves.
Já a Instrução Normativa nº 14/2018, do ICMBio, regulamenta a prática da observação de aves em Unidades de Conservação, reconhecendo seu papel na educação ambiental e na geração de renda sustentável. O Código de Ética do Observador de Aves (CEMAVE/ICMBio) complementa essa base normativa, promovendo práticas responsáveis e a convivência harmoniosa entre visitantes e fauna silvestre.
Um segmento em crescimento e em rede
Entre os biomas analisados, Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga aparecem como grandes laboratórios de turismo de natureza e conservação. Experiências como o Buraco das Araras (MS), Lajedo dos Beija-Flores (BA), Cristalino Lodge (MT) e o Parque Estadual Intervales (SP) ilustram o potencial de destinos que aliam infraestrutura, guiamento qualificado e envolvimento comunitário.
O documento também destaca a importância das parcerias entre poder público, setor privado e sociedade civil, reconhecendo o papel de associações, guias e clubes de observadores (COAs) na formação de redes colaborativas que transformam o turismo de observação em uma ferramenta de educação, conservação e valorização do patrimônio natural e cultural brasileiro.
Um marco para as políticas de turismo de natureza
O Diagnóstico Nacional representa um avanço inédito para o setor, pois oferece uma base técnica e participativa para orientar planos de investimento, qualificação e promoção. Ele será referência para governos, instituições e empresas que desejam desenvolver produtos turísticos sustentáveis e alinhados às metas globais de biodiversidade (Acordo Kunming–Montreal).
Mais do que um estudo, o diagnóstico inaugura uma nova etapa: a do reconhecimento oficial do turismo de observação de aves como política pública estruturante no Brasil — uma conquista que reforça o protagonismo do país no cenário internacional e abre caminhos para que o poder público amplie o fomento a essa atividade que une ciência, conservação e desenvolvimento sustentável.
Acesso completo do diagnóstico
Reflexão final
“Participar ativamente desse movimento do fortalecer o turismo de observação de aves, contribuindo com o desenvolvimento do segmento por meio de consultorias, projetos e articulações institucionais, tem sido uma oportunidade única de ver o Brasil avançar na compreensão do valor que o turismo de observação de aves representa. Este diagnóstico fortalece o diálogo entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil, e aponta caminhos para que as parcerias se transformem em ações concretas — gerando resultados reais para a conservação da biodiversidade, para o turismo e para as comunidades locais.”
— Edson Moroni Vicente Cardoso Marques